sexta-feira, 29 de maio de 2009

Vinho cura o alcoolismo?

Hoje queria partilhar parte da entrevista que Jeremy Grantham cedeu ao site SmartMoney, da qual destaco estes 2 parágrafos acutilantes:


"The stimulus is so great in the United States, China and the United Kingdom, it will kick the economy up. GDP will go back positive for two to three quarters. They’ll assume everything is settled, that throwing money at it has worked. But the long-term imbalance between overproducers [like China] and overspenders [like the US] will continue. It’ll be a multiyear drag on growth.

If the problem is that we consume too much and borrow too much, does it make sense to borrow more and spend more? It doesn’t make sense to solve alcoholism by giving an alcoholic a quart of whiskey, but everyone believes that we must stimulate. So that’s why we feel this is a temporary cure. This is like when you revive the drunk, he staggers down a few blocks, then falls down again.
Ou seja, Grantham diz aos entrevistadores que o estímulo nos Estados Unidos, na China e na Grã Bretanha é tão grande que acabará por reanimar a economia mas apenas temporariamente, uns 2 ou 3 trimestres. Isto porque os já velhos desiquilíbrios entre sobre super consumidores (como os EUA) e os super produtores (como a China) continuarão e serão um travão no crescimento económico por mais alguns anos.
Grantham pergunta também, sabendo que o problema é consumirmos demais e pedirmos demasiado dinheiro emprestado, se faz sentido consumirmos mais e contrairmos ainda mais empréstimos? Da mesma maneira que não se resolve o alcoolismo com whisky, não se resolverá certamente esta crise com mais do mesmo e é por isso que Jeremy Grantham acredita que esta cura para a economia será apenas temporária...
Atentamente,
Dax Speculator

quinta-feira, 28 de maio de 2009

CUNHA ASCENDENTE NA PETROBRAS

Na minha última análise ao ADR da Petrobrás (ver "PETROBRAS (ACOMPANHAMENTO)", em Setembro 2008, recomendei a tomada de mais-valias neste título pois tudo apontava para uma ida bem abaixo dos 36 USD, podendo mesmo chegar aos 18 USD:

"o target final deste padrão situar-se-á sempre abaixo dos 36 USD, podendo mesmo ir até aos 18 USD."

Em Novembro 2008, a PBR viria mesmo a fazer um mínimo de 14.18 USD numa espectacular queda de 81% desde dos máximos de Maio 2008, altura em chegou a valer 74.69 USD.

Desde esse mínimo a PBR já fez um retracement de Fibonacci de 38.2% (37.29 USD) e poderá mesmo chegar aos 50% de retracement (44.44 USD) pois já cotou esta semana nos 42.95 USD. No entanto, dificilmente chegará aos 61.8% de retracement pois a forte resistência na zona dos 48 USD não deverá ser pêra doce.

Quanto a padrões técnicos temos, para além da visível perda de momentum no semanal e diário, uma cunha ascendente com volume decrescente que, a ser activada na quebra em baixa da linha de tendência ascendente (LTasc) inferior, projectará muito provavelmente a Petrobrás para a zona dos 24 USD. Temos por isso um panorama bearish para o médio prazo:




Finalmente, tenho lido alguns analistas a recomendarem uma forte exposição às acções de materiais básicos, preciosos, petrolíferos, etc... pois defendem que a inflação virá ao mesmo tempo do que a retoma. Deixem-me esclarecer que os defensores dessa tese não percebem nada de economia pois asseguro-vos que a inflação é um indicador económico atrasado.

Atentamente,

Dax Speculator

segunda-feira, 25 de maio de 2009

BPI BEARISH

Visto que já lá vai mais de meio ano desde a minha última análise ao BPI (ver "BPI", na qual recomendava a compra a partir dos 1.6€), irei hoje actualizar a situação técnica do 3º maior banco privado Português.

A pressão vendedora esgotou-se para já e, apesar de ainda poder voltar nos próximos meses, não deverá ser suficiente para irmos a novos mínimos pois o duplo fundo formado nos 1.35€ entre Dezembro 2008 e Março 2009, não sendo indestrutível, é um padrão muito forte para o médio e longo prazo (cortesia da Bigcharts):



No entanto, no curto prazo, temos 3 factores bearish que não devem ser ignorados pelos investidores:
  1. Os 2.15€ são uma forte resistência e não deverão ser certamente ultrapassados à primeira;
  2. O BPI está a formar uma Broadening Formation, Right-Angled and Ascending que, apesar de ser um padrão com fraca performance histórica, poderá funcionar como trigger para uma correcção mais acentuada;
  3. Divergência bearish em vários indicadores (não visível no gráfico).

Durante esta semana procurarei publicar mais 2 actualizações técnicas, nomeadamente à Petrobrás e ao BCP.

Votos de uma excelente semana,

Dax Speculator

terça-feira, 19 de maio de 2009

Licenças de construção (II)

Há pouco mais de uma hora foi divulgado o número de licenças de construção emitidas nos E.U.A no mês de Abril.

Como referido em "Licenças de construção", um número abaixo dos 500K (milhares) seria mau. Eis o gráfico das licenças de construção, ajustadas à sazonalidade:



E o número divulgado foi 494K, que é um número mau pois estabelece um novo mínimo para esta crise e fica abaixo do importante nível psicológico dos 500K. O aspecto positivo do gráfico é a visível desaceleração das quedas. A ver vamos como o mercado irá interpretar este número mas penso que irá, pelo menos, suscitar algumas dúvidas quanto à recuperação da economia.

Votos de uma excelente semana,

Dax Speculator

segunda-feira, 18 de maio de 2009

EUROSTOXX 50

No passado dia 12 referi a possibilidade de termos uma correcção nos próximos tempos (ver "CORRECÇAO A VISTA") baseado no rácio COMPQ:SPX (Nasdaq dividido pelo S&P 500). O rácio COMPQ:SPX é um indicador muito bom a antecipar os movimentos do S&P 500 mas, tal como referido na altura, não sabemos qual será o timing exacto dessa correcção.

Entretanto os mercados corrigiram um pouco desde essa altura e encontram-se agora nos 32.8% de retracement de Fibonacci da onda impulsiva w3 (gráfico da contagem no Eurostoxx 50):



Concluíndo, se os mercados se aguentarem aqui nesta zona e estivermos na presença de uma onda não truncada, teremos muito provavelmente direito a mais uma perna para cima com objectivo entre os máximos deste mês de Maio o os de Novembro 2008 (não visíveis no gráfico).

Votos de uma excelente semana,

Dax Speculator

terça-feira, 12 de maio de 2009

CORRECÇAO A VISTA

Hoje vou "apenas" partilhar um gráfico que me chamou muita atenção de manhã, o rácio
entre o Nasdaq Composite (COMPQ) e o Standard & Poor 500 (SPX).

Como se pode ver no gráfico abaixo, a diferença entre o COMPQ e o SPX tem aumentado, ou seja, o COMPQ tem descido menos do que o SPX, o COMPQ tem subido mais do que o SPX ou ambas as situações aconteceram simultaneamente. Eis o gráfico:


Essa subida do rácio COMPQ:SPX antecedeu o rally pois iniciou-se já em Dezembro, tendo sido por isso um excelente indicador avançado.

No entanto, desde finais de Abril que o rácio tem corrigido com alguma violência, o que indicia que uma correcção significativa poderá estar aí ao virar da esquina. Não sabemos o timing exacto mas temos de estar cautelosos...

Votos de bons investimentos,

Dax Speculator

segunda-feira, 11 de maio de 2009

PER ENGANADOR

O ano passado publiquei um artigo onde explicava a reduzida utilidade do PER (ver "PER"). A principal fragilidade invocada na altura foi o facto do PER ser dependente do EPS (Ganho por Acção) e que este era um dado do passado.

As 2 variáveis das quais depende o PER (cotação e EPS) são altamente voláteis, o que complica ainda mais as análises baseadas neste indicador. Assim sendo, o PER pode subir mesmo com a cotação a descer, bastando para isso que o EPS desça a um ritmo mais elevado que a cotação ou, pura e simplesmente, a empresa dê prejuízo. Apesar de menos provável, existe também a possibilidade do PER descer mesmo com a cotação a subir, bastando para isso que o EPS suba a um ritmo mais elevado que a cotação...

Mas vamos ser pragmáticos e explicar, através do seguinte exemplo, porque o PER é um indicador enganador e, por isso, pouco útil:

  1. A empresa X teve em 2008 um EPS de 1€ e, em 31 de Dezembro 2008, cotava a 15€. O seu PER era de 15;
  2. Em 2010, a mesma empresa X teve um EPS de 1,25€ e, em 31 de Dezembro 2010, cotava a 25€. O seu PER era de 20;
  3. Em 2012, a mesma empresa X teve um EPS de 1,5€ e, em 31 de Dezembro 2012, cotava a 20€. O seu PER era de 13.3.

Ou seja, apesar da empresa X ter um PER superior em 2008 (15) do que em 2012 (13.3), teria sido preferível comprá-la em 2008 pois, para além do preço de aquisição ser inferior, o investidor ainda recebia os dividendos durante esses 4 anos!

Votos de uma boa semana,

Dax Speculator

sexta-feira, 8 de maio de 2009

LIcenças de construção

No meu último artigo (ver "COMPRAR OU VENDER?") referi 2 indicadores macro-económicos - os Non Defense Durable Orders e o Clima de Negócios IFO.

Apesar de não o ter referido na altura, estes 2 indicadores são indicadores líderes, ou seja, este tipo de indicadores dão fortes indicações sobre o rumo da economia mundial (dá-me vontade de rir quando leio economistas a tentarem prever esse rumo com base em indicadores atrasados, como o desemprego).

Mas há mais indicadores líderes e um deles é o Permits que é nada mais na menos do que o total de licenças de construção emitidas nos EUA durante o mês. Este indicador é líder porque indica quantas casas serão iniciadas (Housing Starts) nos meses seguintes, ou seja, como estará o sector da construção nos meses seguintes. Eis então o gráfico dos Permits desde 1960, ajustado da sazonalidade (*):



É bem visível a gravidade desta crise - a mais grave desde 1929 (ver "PIOR CRISE DESDE 1929?") - pois o número de licenças de construção desceu para mínimos históricos, ou seja, desde que existem dados: 1960. Parece-me por isso um pouco cedo afirmar-se que o pior já terá passado no sector da construção e do imobiliário Americano só porque os dados de Fevereiro 2009 foram melhores do que os de Janeiro 2009. Mas observemos os dados mais recentes (desde Abril 2005):



Concluindo, estamos perante uma correcção em 1-2-3-4-5 que, por sua vez, faz parte de um movimento de correcção maior em A-B-C. Estas 5 ondas 1-2-3-4-5 forma a onda A desse movimento e a próxima onda (B) será de alívio (subida), podendo durar uns 3/4 anos.

Finalmente, os próximos dados (divulgados dia 19 de Maio) serão críticos para sabermos se estamos a inverter a tendência de queda ou não: um valor superior ao de Fevereiro (564) não dará certezas mas será certamente muito positivo. Um valor inferior a 564 será neutral, excepto se for abaixo dos 500, a barreira psicológica...

(*) - O ajuste da sazonalidade retira volatilidade aos dados mensais, filtrando aquelas épocas do ano historicamente mais voláteis.

Um bom fim-de-semana,

Dax Speculator

terça-feira, 5 de maio de 2009

COMPRAR OU VENDER?

Visto que desde a última vez que fiz este tipo de análise (ver "LONGO OU CURTO?"), os mercados já subiram em média 35%, parece-me apropriado uma revisão dos factores a descontar pelo mercado.

Contrariamente ao que alguns crêem - inclusive o mui nobre Warren Buffett - o mercado não é uma máquina de votar mas sim uma máquina de descontar. Se desconta bem ou mal e tarde ou cedo é outra questão mas que desconta, lá isso desconta!

Dito isso, vamos então actualizar os factores bullish e bearish a descontar pelo mercado. Do lado bullish:
  • Diversos indicadores macro-económicos começam a querer inverter a tendência negativa iniciado em 2006/2007. Dois exemplos disso são os Non Defense Durable Orders e o Clima de Negócios IFO (gráficos, respectivamente, da cortesia do Briefing.com e do IFO):

  • Os EUA e o Japão com taxas de juro próximas de 0%, o Reino Unido e a Zona Euro com taxas próximas de 1% estão, na prática, a forçar os mais prudentes a assumirem mais risco (acções, dívida privada, etc...).

Quanto aos factores bearish, destaco:
  • Os mercados encontraram-se muito perto de fortes resistências (930 no S&P 500 e 5000 no DAX) que não deverão ser ultrapassadas à 1ª. Para além disso, também estão sobre comprados, havendo inclusive divergências bearish nalguns gráficos diários;
  • O VIX está também numa zona de forte suporte (35 no VIX), o que poderá significar um aumento do medo nos próximos meses;
  • Sell in May and go away;
  • O efeito das alterações contabilísticas anunciadas em Fevereiro pela FASB (Financial Accounting Standards Board) já não terão tanto impacto nos resultados do 2º trimestre das instituições financeiras como tiveram no 1º trimestre pois até a contabilidade criativa tem os seus limites.

Resumindo, os factores bearish estão agora em maioria e são fundamentalmente técnicos. Quanto aos factores bullish, a possível inversão dos indicadores macro-económicos requer ainda confirmação e, se esta não acontecer já em Maio, os mercados deverão navegar para sul...

Uma boa semana,

Dax Speculator